quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Poemas da Literatura Afro-Brasileira

O berço da Humanidade "Mãe África"

És muito amor, aliada a muita dor.
És muita sabedoria e temperança.
És a vida.
És a cor.
És a fé e a lembrança…
Mas ferozmente,
Vais marcando os teus filhos,
Com a eterna e doce esperança…
Porque és a cobiça dos homens.
És salteada dia e noite.
O pranto, alaga os campos,
Onde teus filhos perecem.
Mas mesmo assim…
Vais ensinando mansamente,
Para que não mudem os seus caminhos,
Que cresçam em humildade,
Que entreguem a outra face.
Porque a marca, está na alma.
feita de um raio sol,
feita de um rasgo de luz,
Transformada em renúncia
Transformada em Nada
É um Natal cravado na Cruz
Para que nunca esqueçam…,
de Quem são filhos, de Onde nasceram?
Do amor , da liberdade!
Da resistência , da harmonia!
No Berço da Humanidade.
Melita


Ressurgir das cinzas

Sou forte, sou guerreira,
Tenho nas veias sangue de ancestrais.
Levo a vida num ritmo de poema-canção,
Mesmo que haja versos assimétricos,
Mesmo que rabisquem, às vezes,
A poesia do meu ser,
Mesmo assim, tenho este mantra em meu coração:
"Nunca me verás caída ao chão."
[...]
Sou guerreira como Luiza Mahin,
Sou inteligente como Lélia Gonzáles,
Sou entusiasta como Carolina Maria de Jesus,
Sou contemporânea como Firmina dos Reis
Sou herança de tantas outras ancestrais.
E, com isso, despertem ciúmes daqui e de lá,
mesmo com seus falsos poderes tentem me aniquilar,
mesmo que aos pés de Ogum coloquem espada da injustiça
mesmo assim tenho este mantra em meu coração:
"Nunca me verás caída ao chão."
Esmeralda Ribeiro


SOU NEGRO

Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu

Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou

Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação
Solano Trindade


CONVERSA

 - Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê...

- Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
- Plantei os canaviais do nordeste

- E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.

- Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro

- Eu...
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.

Eita! quanta coisa
tu tens pra contar...
não conta mais nada,
pra eu não chorar -

E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá...

Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
Solano Trindade



Referências:
                                 
http://poemasdaminhaterra.blogs.sapo.pt/


http://eba-ensinosembasesafricanas.blogspot.com.br/2011/02/ressurgir-das-cinzas-esmeralda-ribeiro.html

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