Literatura Afro-brasileira
“A literatura negra é um imaginário que se forma,
articula e transforma no curso do tempo. Não
surge de um momento para outro, nem é autônoma
desde o primeiro instante. Sua história
está assinalada por autores, obras, temas, invenções
literárias. É um imaginário que se articula
aqui e ali, conforme o diálogo de autores, obras,
temas e invenções literárias.
É um movimento, um devir, no sentido de que
se forma e transforma. Aos poucos, por dentro e
por fora da literatura brasileira, surge a literatura
negra, como um todo com perfil próprio, um
sistema significativo. Octavio Ianni”
Somente
no século XX a literatura afro-brasileira começou a ser representada,
principalmente quando Maria Firmina dos Reis escreveu, em São Luiz do Maranhão,
o primeiro romance afrodescendente da língua portuguesa – Úrsula – no mesmo ano de 1859 em que Luiz Gama publica suas Trovas burlescas... Estes escritos abriram
caminho para os negros ganharem espaço no meio literário, inserindo algo que
faz parte da nossa história e da origem do nosso país. Descartados os fatores extraliterários,
algumas constantes discursivas se destacam e têm sido utilizadas como critérios
de configuração dessa literatura. Em primeiro lugar, a temática: “o negro é o
tema principal da literatura negra”, o sujeito afrodescendente não apenas no
plano do indivíduo, mas como “universo humano, social, cultural e artístico que
nutre essa literatura”. Uma escrita proveniente de autor afro-brasileiro, sempre
se atenta para a abertura implícita ao sentido da expressão, a fim de abarcar
as individualidades muitas vezes fraturadas oriundas do processo miscigenador. Com efeito, não basta ser afrodescendente ou simplesmente utilizar-se do tema, é
necessária a assunção de uma perspectiva e, mesmo, de uma visão de mundo
identificada à história, à cultura, logo a toda problemática inerente à vida
desse importante segmento da população. Essa literatura apresenta um sujeito de
enunciação que se afirma e se quer negro.
Outro
componente situa-se no âmbito da linguagem, fundado na constituição de uma
discursividade específica, marcada pela expressão de ritmos e significados
novos e, em alguns casos de um vocabulário pertencente às práticas linguísticas
oriundas da África e inseridas no processo transculturador em curso no Brasil.
Por último um quinto componente, em que aponta para a formação de um público
leitor afrodescendente como fator de intencionalidade próprio a essa literatura
e, portanto, ausente do projeto que nortearia a literatura brasileira em geral.
Impõe-se destacar, todavia, que nenhum desses elementos isolados propicia o
pertencimento à Literatura Afro-brasileira, mas sim a sua interação.
Isoladamente, tanto o tema, como a linguagem e, mesmo, a autoria, o ponto de
vista, e até o direcionamento recepcional são insuficientes.
O
conjunto de obras afro-brasileiras é conhecido como cadernos negros, onde os
escritores da literatura negra, compreendendo a importância para a construção
da identidade dos afro-brasileiros, tematizam a memória dos afrodescendentes em
suas produções, trazendo à tona uma memória coletiva invisibilidade, negada e
apagada pela história oficial brasileira. Uma das imagens recorrentes nos
poemas, contos e romances da literatura afro-brasileira é a ideia de que os
negros brasileiros compartilham uma origem comum. Segundo Potignat e
Streiff-Fenart, a crença em uma origem comum é a característica basilar da
identidade étnica. Para estes autores, o que diferencia em ultima instância a
identidade étnica de outras formas de identidades coletivas (religiosas ou
políticas) é que ela é orientada para o passado e tem uma aura de filiação’ (R.
COHEN , 1978). “Como já afirmara Weber, a crença na (e não o fato da) origem
comum constitui o traço característico da identidade (POTIGNAT; STREIFF-FENART,
1998, p.162).
Referências:
PDF: Revista Multidisciplinar da Uniesp, Identidade Étnica
e Literatura Afro-brasileira, Francineide Santos Palmeira (http://www.uniesp.edu.br/revista/revista11/pdf/artigos/02.pdf)
PDF: Literatura Afro-brasileira: Um conceito em construção, Eduardo de Assis Duarte (https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxjdWx0dXJhYWZyb2JyYXNpbGVpcmFlaW5kaWdlbmF8Z3g6NjJlYjNiYWE0MjkyOGQxNA)
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